domingo, 1 de abril de 2012

"MINHA INFÂNCIA GAY..".


Sei que vocês devem estar se sentindo sozinhos,
sei que é duro esse período onde reina o medo,
sei também que você questionará muito o amor dos seus pais, pois eles não te conhecem “realmente”,
sei que por mais que se esforcem para mudar seus trejeitos afeminados, sempre serão gays,
sei que sentem vergonha,
sei que pensam em suicídio,
sei que quanto mais vocês veem na TV piadinhas de gays, mais se enterram no seu segredo,
sei que não confiam em ninguém para contar seus segredos,
sei que tudo parece perdido,
sei de tudo isso e muito mais,
mas também sei que tudo isso passa,
também sei que vocês um dia encontrarão alguém como vocês para dividir todo esse amor que está aí,
também sei que muitos pais irão aceitar seus filhos e que outros irão os expulsar,
mas tenho certeza que tudo isso só vai te fazer mais forte,



mais humano,
mais vivo,
mais sexy,
mais lindo,
mais feliz,
e o melhor de tudo:
MAIS HOMEM!
UM HOMEM SEGURO, FORTE, SENSÍVEL, COMPLEXO, E GAY

sábado, 3 de março de 2012

Homossexualidade e Teologia Cristã


                                                    Cena da Peça Santidade, Sexo – Solidão e Culpa nas bordas da Fé

Há pouco tempo, o assunto “homossexualidade em relação à religião” tem explodido nas discussões midiáticas do Brasil, por isso muita gente já conhece o contrassenso que o tema evoca. Este embate se tornou fatigante e por isso não há mais validade em retroceder aos argumentos e esgotá-los num debate irritante; senão, é bom que haja alguma inovação. A igreja contemporânea tem pregado um evangelho medieval e se esforçado para que isso não mude, a não ser que seja uma mudança que envolva mais “fantasias emocionais” ou mais dinheiro. Quero dizer: a igreja, que diz apregoar o evangelho, tem deixado de cumprir o mesmo, impedindo que a palavra “se renove a cada manhã”. Ora, a aplicabilidade do evangelho dos tempos medievais não é para a sociedade contemporânea, assim como não se encaixaria nos tempos de Jesus – Tente não se assustar com isso, mas, antes, processe a informação com inteligência: Se a palavra de Deus é inspiradora (ao invés de ditadora), ela inspirará a sociedade segundo o seu tempo e contexto.
                O que a igreja tem pregado causa um desajuste social; no sentido em que a sociedade progride por sua cultura e a igreja tende a retroceder esta evolução, quando implica um pensamento de caráter medieval para seus seguidores.
                É com essa atitude (de retrocesso) que a igreja tem inventado tantos “modismos espirituais”, moralidades destoadas, lógicas incongruentes e muitas (MUITAS) falácias. Quando a igreja aponta as intempéries sobre a homossexualidade, a TEOLOGIA aproxima o seu olhar e contempla não haver apenas um problema moral com a diferença sexual – a teologia encontra a raiz do problema: diante do desenvolvimento cultural a igreja permanece infantil, carregada de fantasias e desinteressada em mudar esse quadro.
                O Deus que a igreja prega é distante, difícil de ser alcançado e repleto de contradições sobre amor, ódio e autoritarismo – por isso o fiel deve se submeter à igreja, para que seja mediado a Deus. Por sua vez, a igreja é cheia de normativas que amarra seus fieis, submetendo-os a uma “prisão espiritual” do qual não conseguem se libertar, assim a igreja não corresponde ao seu caráter libertador, pois, com suas doutrinas, prende o sentimento, o pensamento, a imaginação, a cognição e o corpo de quem por ela se deixa levar. Todas essas características de comportamento correspondem a de uma cultura medieval, que não são inovadores, nem livres, nem informados, nem midiáticos e nem conhecedores de si - sujeitos absolutamente diferentes dos atuais. Os dogmas das igrejas dificultam todo sujeito de raciocinar e, fora o entendimento doutrinal, para eles, nada mais há para se compreender.
                Estas são as ações da igreja e seu contexto, ela é evangelizadora, trabalha para a remissão do pecador e aprisiona o mesmo a si. Semelhante a “idade das trevas” (como era conhecido o medievalismo), a igreja não produz mais conhecimento e tão pouco progride no que leva consigo.
                Por outro lado, a teologia não é estagnada e nem presa a qualquer tempo do cristianismo; ela caminha lado a lado com a progressão do desenvolvimento humano e comina com a cultura e suas projeções fenomenológicas. A teologia pós-moderno afirma que a espiritualidade só pode ser compreendida mediante o próprio homem; por isso estuda o homem (e suas conquistas) para que haja algum conhecimento sobre Deus – a teologia não desmerece a igreja, mas sempre está a passos largos à sua frente.
                Deste modo, a teologia observa o homem a partir do próprio homem, e torna toda esta visão diferenciada do olhar eclesiástico – mas sem se perder da filosofia cristã. Logo, aquilo que há de mais importante é o homem, no qual destaca principalmente a sua alma. Ora, a alma nada mais é do que as características “não-físicas” de cada um de nós; isso envolve o pensamento, memória, sentimentos, cognição e outros elementos que nos fazem identificáveis como sujeitos. É este complexo sistema “não-físico” do homem que Deus tanto valoriza, que chama de alma, que é repleto de intenções e que é “objeto” de salvação.
                Todo ser humano possui alma; ela é uma sublimação do nosso corpo, “à imagem e semelhança de Deus” – ou seja, não material e absolutamente espiritual. Por isso, seja homem ou mulher; seja amarelo, pardo ou negro; seja oriental ou ocidental – não importa, se você é uma pessoa, você tem alma. Contudo, a historia nos conta que (por exemplo) antigamente diziam que as mulheres não tinham alma, eram consideradas desalmadas - imagine, as sensíveis mulheres não serem espirituais! Mas isso serve de exemplo para compreendermos que o entendimento do que se passa no “não-físico” do sujeito é algo difícil de ser compreendido culturalmente.
               Ora, os gays (homossexuais) sempre existiram nas sociedades. Grandes homens como P. Picasso era gay, Calígula, o grande filósofo Sócrates proporcionava iniciações sexuais para homens e, a partir disso, segue uma vasta lista que aponta diversos sujeitos e comportamentos gays na história – ser gay não é estranho. Destarte, a cultura judaico-cristã (conservadora) aponta a homossexualidade como uma quebra dos desígnios de Deus a partir do momento que não cumpre o “crescei e multiplicai”, ou quem sabe as antigas regras do “homem não se deitar com homem”.
            Os crentes fundamentalistas querem assegurar que a “palavra de deus” seja cumprida, contudo tropeçam em suas próprias palavras. A bíblia não é mais vista como “A PALAVRA DE DEUS”, ela CONTEM a palavra de deus; ela não é mais tida como ditadora ou orientadora – a bíblia serve unicamente como INSPIRAÇÃO. A prerrogativa de se viver uma vida cristã é que se saiba inovar a cada dia, quero dizer: É preciso se reinventar todos os dias através da inspiração da filosofia do cristianismo.
                A salada é misturada mais ou menos assim: A igreja está estagnada, com seus argumentos medievais tentando interpretar as escrituras com fidelidade e acabam gerando dogmas dos quais não conseguem escapar; se na igreja não há liberdade, é comum que este comportamento tenda a se transbordar a ponto de impedir a liberdade dos outros – isso não acontece apenas com gays. Desta forma, “apoiados” nas escrituras falam com tom acusativo, e não acolhedor, como deveria ser; e esbravejam sua culpa com a intolerância sobre o pecador (todos somos pecadores) – assim, aquele que se integra a igreja, o faz com sentimento de culpa social; pela desvalorização que sofre pelo evangelista. Fazem assim por não conhecerem e não suportarem outras formas de trabalho, pois a dor do cárcere “espiritual” que sofrem por ser cristãos (já que ser cristão é uma luta diária) precisam se expressar de alguma forma.
                Contudo a teologia começa a se expressar, ela vem com passos mansos e com carinho para anunciar um sussurro, para não assustar aqueles que a igreja já amedrontou.
               
  Há três pontos básicos que a teologia nos recorda: aceitação, graça e amor:
                - as escrituras trabalham bravamente com o tema da aceitação; utiliza o antigo termo ACEPÇÃO. Nada ecoa mais forte no ouvido dum teólogo do que as ritmadas palavras: Deus não faz acepção de pessoas! Se ele não faz, quem o faz? Os argumentos devem ser reduzidos, pois é incompreensível que se defenda tanto a “posição de Deus” e da família se isso não está sendo tão importante – digo: se um gay não é aceito por esses motivos, um filho agressivo também não deve ser aceito (no antigo testamento são infrações equivalentes); mas não é disso que o “novo testamento” diz, fala-se sobre aceitação, sobre não fazer distinção ou escolhas sobre com quem conviver – ninguém deu melhor exemplo disso do que o próprio Jesus.
                - a graça é um tema maravilhoso na bíblia; ela nos conta dum tempo que o ser humano não era tão desenvolvido como hoje e seu senso social era precário, por isso necessitavam de “ordens expressas de Deus” para viver em sociedade. Quando Jesus entra em cena, ele rompe com tudo isso e anuncia: Vocês podem viver livremente, sem leis, desde que tenham consciência e responsabilidade dos seus atos. É através dessa consciência que a filosofia cristã continua dizendo: privilegie o outro, pois você é o outro dele. Com o ensinamento da graça, aprendemos que devemos exercitar os bons sentimentos com o próximo, mesmo que não mereçam, pois isso é ser educado (quem é educado vive melhor socialmente). Apesar de elementar, é preciso falar disso antes de compreendermos sobre nosso principal tema: as leis do” antigo testamento” deixa de valer (naquele formato) quando o sujeito toma consciência e responsabilidade de seus atos – é a transmutação duma sociedade formal para uma sociedade LIVRE.
                - o amor é a peça chave de todo o cristianismo, não há aceitação ou graça sem o amor – e como diz o poeta bíblico: sem amor, nem a fé existiria. A bíblia nos inspira amar com nosso comportamento e com nossa alma e qualquer atitude avessa a esta não é de um cristão. Existem pessoas com problemas neurológicos que não conseguem amar (psicopatas), eles não conseguem “se por no lugar do outro” – por isso, amar é ter a graça de se colocar no lugar do outro, sem selecioná-lo, e ouvir a sua alma como se fosse a sua (era isso que Jesus fazia). Mas a igreja de hoje se comporta como os antigos fariseus: afirmam que tem o conhecimento das leis, mas não praticam empatia alguma.

               

                  A teologia compreende que a alma não tem sexo; e, também, compreende que a consciência do sujeito é o seu principal tribunal! Ao contrário da dedução teológica medieval, não há tribunais celestial, nem o olhar constante acusador de um deus ditador de regras, nem há necessidades de nos portar como uma criação robótica divina que não tenha vida própria – somos todos iguais por sermos da mesma substância de deus, mas, enquanto corpo, temos as nossas identificações, nossas variações e nossas preferências. A gente faz da vida o nosso melhor para viver, mesmo que isso não pareça o melhor nos olhos do outro, mas isso não é empecilho de amar ou ser amado.
                A inovação da teologia contemporânea é baseada na cultura, e sobre os gays é dito que não há problema algum, nem mesmo em referência às escrituras; aquilo é um emaranhado de assuntos complexos que às vezes deve ser interpretado por um profissional da área. Infelizmente a igreja não se permite divulgar essas boas novas – como dizem meus amigos pastores: Eu entendo a sua forma de amar (gay), mas se meus fieis não compreenderem a minha igreja fecha e eu seria “fuzilado”.
                A ontologia fenomenológica (na bíblia) nos faz entender que a “salvação” não está no sexo, nem no que se faz com ele (propriamente); a “salvação” se dá pelas nossas escolhas de vida e sobre como transformamos nossa alma a cada dia, digo: a salvação é aquilo que se faz do AMOR. Se há amor entre os gays, entre as lésbicas e bissexuais – este sério amor implica em graça e aceitação – o amor gera família e esta conjumina toda a sociedade.
                A teologia não enxerga a imagem capturada pela retina, ela contempla a imagem que se projeta na alma – ao ver dois homens se acariciando, observa duas almas se amando.

Jerry Adriano é teólogo e pedagogo; especialista em psicopedagogia; Professor de filosofia no Estado do Paraná; psicanalista em formação; pesquisador de ontologia, epistemologia, aprendizado e espiritualidade; também, ativista GAY.